quarta-feira, 10 de abril de 2024

A Poesia e a Liberdade ...

O que é a LIBERDADE? O que é ser LIVRE?

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Sophia de Mello Breyner Andresen - 25 de abril



SOMOS LIVRES - Ermelinda Duarte

      Ontem apenas
     fomos a voz sufocada
     dum povo a dizer não quero;
     fomos os bobos-do-rei
     mastigando desespero.

     Ontem apenas
     fomos o povo a chorar
     na sarjeta dos que, à força,
     ultrajaram e venderam
     esta terra, hoje nossa.

     Uma gaivota voava, voava,
     asas de vento,
     coração de mar.
     Como ela, somos livres,
     somos livres de voar.

     Uma papoila crescia, crescia,
     grito vermelho
     num campo qualquer.
     Como ela somos livres,
     somos livres de crescer.

     Uma criança dizia, dizia
     "quando for grande
     não vou combater".
     Como ela, somos livres,
     somos livres de dizer.


     Somos um povo que cerra fileiras,
     parte à conquista
     do pão e da paz.
     Somos livres, somos livres,
     não voltaremos atrás.







MANUEL ALEGRE

As mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967


RECURSO EXPRESSIVO : Anáfora.


Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjetivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em ato
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.

Manuel Alegre




EUGÉNIO DE ANDRADE



Sophia de Mello Breyner Andresen - Revolução

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitetura
Do homem que ergue
Sua habitação 

[27 de abril de 1974]


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