A Nau Catrineta é um poema narrativo de tradição oral.
Almeida Garrett foi um dos escritores que a escreveu, havendo muitas outras versões da aventura destes marinheiros portugueses...
Este poema narra a aventura de uns marinheiros que ficaram sem comida na nau em que regressavam a Portugal - A Nau Catrineta.
As NAUS eram barcos utilizados para transportar mercadorias. Eram construídas nas margens do rio Tejo, na Ribeira das Naus, junto ao Palácio Real, onde mestres carpinteiros as executavam sem a ajuda de planos ou de desenhos técnicos, supondo-se para que não fosse revelado o segredo da sua construção...
Algumas imagens de Naus e Caravelas
Clica na imagem para assistires a uma visita virtual ao interior de uma réplica de uma nau quinhentista, usada durante a expansão marítima portuguesa.
Podes conhecer mais pormenores sobre as naus portuguesas assistindo a este vídeo.
Abre o teu livro e acompanha a narrativa da Nau Catrineta, na voz de Fausto.
Filme "Nau Catrineta" baseado na banda desenhada de Artur Correia
Estas narrativas de tradição oral tinham várias versões, pois... "Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto!"
Lê e ouve esta versão de Rui Veloso e Carlos Tê
Lá vai a Nau Catrineta que tem tudo por contar
Ouvi só mais uma história que vos vai fazer pasmar
Eram mil e doze a bordo nas contas do escrivão
Sem contar os galináceos sete patos e um cão
Era lista mui sortida de fidalgos passageiros
Desde mulheres de má vida a padres e mesteireiros
Iam todos tão airosos com seus farnéis e merendas
Mais parecia um piquenique do que a carreira das índias
Ao passarem cabo verde o mar deu em encrespar
Logo viram ao que vinham quando a nau deu em bailar
Veio a cresta do equador e o cabo da boa esperança
Onde o velho adamastor subiu o ritmo da dança
Foi tamanha a danação foi puxado o bailarico
Quem sanfonava a canção era a mão do mafarrico
Tinha morrido o piloto e em febre o capitão ardia
Encantada pela corrente para sul a nau se perdia
Subia a conta dos dias ficavam podres os dentes
Eram tantas as sangrias morriam da cura os doentes
E o cheiro era tão mau e a fé tão vacilante
Parecia que a pobre nau era o inferno de Dante
Com o leme sem governo e a derrota já perdida
Fizeram auto de fé com as mulheres de má vida
E foram tirando à sorte quem havia de morrer
Para que o vizinho do lado tivesse o que comer
No céu três meninas loiras cantavam um cantochão
Todas vestidas de tule para levar o capitão
No meio do seu delírio mostrou a raça de bravo
Teve ainda força na língua para as mandar ao diabo
Neste martírio sem fim ficou o lenho a boiar
Até que um vento gelado a terra firme o fez varar
Que diria o escrivão se pudesse escrevinhar
Eram mil e doze a bordo e doze haviam de chegar
Ao grande país do gelo com mil cristais a brilhar
Onde a paz era tão branca só se quiseram deitar
Naqueles lençóis de linho a plumas acolchoados
E lá dormiram para sempre como meninos cansados
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